Aquele Beijo
Sabe
Aquele beijo?
Foi ali que tudo começou.
Tua língua rodeando a minha língua
lentamente
– doce desespero.
Calafrios de querer
abocanhar a tua boca.
Eu senti.
Amassar a tua carne num aperto
Ninar você em meus braços.
Tu eras uma criatura delicada
Que beijava com requinte
Um desconhecido rapaz.
Eu admirava você.
Eu cultuava você.
Eu adorava você.
Recorda os poemas
Desequilibrados...
As confissões pueris
A atenção que eu tinha
Por você...
Recorda as grosserias
Repentinas
De quem sente medo
De perder.
Nota o quanto eu precisava
De você.
Sabe
Aquele beijo?
O teu pescoço?
Os teus olhos?
O teu perfume?
‘stá tudo aqui
– na minha lembrança
Nenhum detalhe se perdeu.
Eu ainda sinto o gosto
A membrana fina dos teus lábios
O calor da tua pele
A aspereza dos teus cabelos.
A protagonista
Dos meus sonhos
No altar mais alto
Eu coloquei você.
Recorda o brilho dos meus olhos
Impetuosos
Profundos
Irascíveis
Neles
nenhuma pedra de gelo
nenhum floco de neve
nenhuma Antártida
A única verdade
– o que restou
A lembrança
Daquele beijo...
Foi ali que tudo terminou.
(Henrique de Shivas)