Mais uma vez você
Tenho me tornado um ser desprezível...
Poeta: já não posso me conter.
Tudo o que eu sinto dói;
Cada palavra que da minha boca sai:
– sinto explodir como uma bomba.
A culpada, eu digo pra mim mesmo: é ela.
Tomou meu sono... furtou a minha paz.
Até o meu sossego me levou.
Até esquecer de mim, o que eu sou,
o que eu faço: já perdi a noção.
Que eu não sei amar, diz depois
Quando eu a procuro, meio desajeitado,
Meio grosso, meio tímido – enigmático!
Eu não tenho a fórmula:
– conquistar-te será sempre uma ciência
Do mistério, que eu ignoro e não sei lidar.
Em palavras eu tento em vão registrar
Tudo o que eu sinto por ti...
É tão difícil pra mim.
Das vezes em que eu fui sincero
Eu me fodí;
E das vezes em que eu menti
– abandonado eu fui.
Sonho: basta-me fechar os olhos
Para ver-te sempre quando eu durmo...
Basta tocar uma música
Para me sentir invadir por uma espécie
De vento cujo perfume me lembra a ti.
Falar, eu já não sei o que dizer...
Tenho medo de ti
Do teu jogo de menina...
Do teu olhar simplório e meigo...
O gesto sensível dos teus lábios
Quando rir, é impossível pra mim
Não sorrir também.
Desculpa, se falo bobagens
Confessando cousas irrisórias
Do meu coração.
Se me exponho revelando
Tudo aquilo que eu sinto
Ardendo aqui dentro do peito.
Que eu tenha medo – é instintivo;
É inevitável... Fugir sempre
Será mais confortável
Do que te enfrentar
Mais uma vez.
Mais uma vez você
Mais uma vez você.
Mais uma vez... você.
...tenho vontade de acabar
Com tudo isso
Procurando outra mulher.
Uma mulher que se pareça
– com você.
(Henrique de Shivas)